quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Capítulo 2
Capítulo 2
Uma experiência um tanto marcante trouxe uma verdadeira oportunidade para valorização da música e sua influência na forma de se enxergar o mundo. A força que esta arte tem perante a vida das pessoas não é representada por magnitudes.
No início da carreira como guitarrista, a vontade de proclamar ser integrante de uma banda junto aos demais amigos era uma chance que poderia fortalecer um convívio social mais produtivo, mais receptivo. Mesmo sem possuir uma guitarra ainda, o violão já supria as necessidades que predominavam em uma roda de amigos que almejavam formar uma banda.
Apesar de os ensaios ainda serem totalmente realizados com dois violões e o vocalista, já era possível produzir as primeiras obras do projeto. A cada dia de ensaio, o trabalho ia ganhando forma, tomando suas características as quais, a princípio, giravam em torno da personalidade do então “cabeça” do grupo. As ideias para as letras vinham todas dele através do seu dom que era de se admirar. Possuía uma facilidade extrema para transmitir suas mensagens, de tal modo que a cada novo rascunho, a empolgação para se trabalhar em cima era de profunda extensão.
Diversas foram as vezes em que reuniões foram concretizadas de baixo dos blocos onde cada um morava. Todos residiam em Águas Claras e era muito fácil realizar tais encontros. Quando o compositor chegava com um novo trabalho, existia uma expectativa grande para iniciar a mão de obra nestas obras. O único porém era que apenas um dos integrantes tinha, até o momento, um conhecimento maior para construir o esboço das letras das músicas. Na maioria das vezes, já chegava com a letra toda pronta, e os demais apenas contribuiriam com a parte melódica das músicas.
Entretanto, existiam características em comum a todas as composições, dentre as quais se destacava um estilo que não condizia com a personalidade de todos os integrantes em conjunto. Era possível se encontrar particularidades dos demais em um detalhe ou outro de determinada melodia, mas nem sempre a mensagem em si era aquilo que todos os integrantes almejavam alcançar.
Ainda
assim, a liberdade que todos possuíam para poder contribuir ainda que
instrumentalmente tornava o trabalho interessante. A melodia se tornava
agradável e uma sensação boa emergia no momento da execução da obra, mesmo com
a obscuridade das letras. Já era possível ter uma próspera visão do que poderia
ser o futuro do projeto, mesmo com algumas destas peculiaridades que existiam
no momento.
Os
trabalhos estavam se desenvolvendo fielmente. E uma música em particular foi
capaz de prender uma maior atenção. Também obscura, mas com uma intensidade
menor de angustia. Tratava sobre uma atração física e psicológica por uma amada,
e a incerteza da aproximação ser bem quista, e ao sutil contentamento do conhecimento
da existência do Eu-lírico.
Em
uma noite de Abril que esta música foi apresentada para todos. De imediato a
melodia já era capaz de chamar a atenção pelo fato de que fora feita com alguns
acordes que ainda não se tinha conhecimento. Simples, mas para quem estava
começando a jornada no ramo da música, era inovador. O compositor a havia feito
para uma moça a qual nunca se aproximara dela, mas a admirava ainda distante.
De pronto, quem já viveu tal experiência, já tinha a história da obra como uma
grande amiga.
Talvez
uma pequena paixão que perdurou por bastante tempo na juventude, jamais exposta
nem mesmo aos amigos mais íntimos trouxe uma possível identificação para com o
personagem deste mini enredo transformado em música. E esta empatia serviu de
alimento a uma maior dedicação a poder tocar esta obra, levando a possibilidade
de aprender, além da melodia tocada, toda a letra sem maiores dificuldades. Ao
executar a música com sua própria essência, encontrava-se um refúgio silente,
incapaz de tornar perceptível o real propósito do seu executante a qualquer um
que a ouvisse.
Essa
visão para com a arte da música foi capaz de contribuir continuamente com a
própria evolução do espírito. A cada
melodia criada, a cada harmonia concretizada e a cada história contada, a
paixão pela possibilidade de expor o mais interno dos sentimentos sem qualquer
barreira -interna ou externa - se tornava mais forte.
Era
a hora de tentar construir algo que representasse a própria experiência até
então. Porém, talvez pelo fato de sempre dar valor mais as obras
internacionais, não existia uma familiaridade com a música brasileira. Mas por
fim, nascera o primeiro trabalho próprio. Por uma questão de ignorância
cultural, a opção por redigir uma letra em inglês aparentava ser o mais fácil
dos caminhos iniciais. Mas não era ignorância em sua totalidade. Talvez, além
de uma maior facilidade que aparentava ter esta língua para ser utilizada em
composições, havia ainda o receio de que seria mais fácil o entendimento logo
de cara os segredos do seu compositor. Há de se confessar uma mentalidade um
tanto juvenil para quem ainda tinha muito o que explorar nestas marés.
Uma
fonte de inspiração foi de grande eficácia para a projeção desta primeira obra,
cheia de vícios, feita por um amador iniciante. Aquela mesma paixão que trazia
fortes emoções à música do projeto com os amigos foi mais uma vez homenageada,
mas desta vez com as próprias palavras. Assim se originou:
PLACE IN THE
HEAVEN (final de 2006)
When I meet you, baby
I lost the evil things that was
Living inside my head
A fantastic peace I have found
Just by seeing your green eyes
It was the sunrise behind the sea
Now I need to tell you something
That I assure this is true
Maybe you'll not believe it
When I talk about my love, is just like walking in the skies
And I want make you feel it too
I want to discover what the real love is
And you're the only one that can show me
Please give me the key, because you're my way
To get a Place in the Heaven
I took the phone at the night
With your name inside my mind
But something don't let me call you (and I think you know what it is)
Something I never felt
And keep living, and growing inside myself
Can you tell me if this is the real love?
Just a young and beautiful girl
That cross my way with her cute face
And build my night of illusions
When I talk about my love, is just like walking in the skies
And I want make you feel it too
I want to discover what the real love is
And you're the only one that can show me
Please give me the key, because you're my way
To get a Place in the Heaven
--
Fim
do Primeiro Ano do Ensino Médio, fomos surpreendidos com a notícia de que no
colégio o professor de Redação estava organizando um Sarau com os alunos, para
que cada um que tivesse interesse pudesse ir à frente e fazer o que quisesse: apresentar
uma dança; recitar uma poesia; tocar uma música. Seria um dia de atividades
extras, descontraído, para que os alunos pudessem ficar à vontade.
Como
não haveria qualquer obrigação, seria um bom dia pra aproveitar a oportunidade
e juntar com o grupo de amigos que tinha e fazer uma rodinha nossa, à parte do
Sarau, como a gente costumava fazer. E dessa vez eu levaria o violão.
No
grande dia, juntei com alguns amigos e ficamos em um canto ao fundo da Sala.
Era a maior sala de aula que tinha no prédio, para que coubessem todos os
alunos do 1º ano. À medida que a hora ia passando, diversos colegas foram com
coragem e bravura mostrar suas mais diversas manifestações artísticas, enquanto
eu e mais três amigos ficávamos lá no canto. Eu tocava músicas do Iron Maiden e
uma ou outra do Fractura D’Alma, mas que não sabia cantar por inteiro, com o
intuito de chamar o interesse da galera pra quando pintasse um show, animassem de ir.
Eu
me surpreendi quando a Amanda, a garota a qual eu tinha uma queda desde à 7ª
série chegou na nossa roda. Estava se enturmando com a gente e eu percebi que
ali seria uma boa ocasião para mostrar a música que fiz justamente a quem tinha
me inspirado. Mas eu não poderia tocar a música pra ela ali e dizer que era pra
ela. Isso seria de um tanto vergonhoso. Decidi então apenas dizer que havia
feito uma música e que queria saber a opinião dela sobre o assunto. “É em
inglês”, alertei, e sem esperar qualquer manifestação, comecei a tocar ela.
Após o primeiro refrão ela soltou um: “Poxa! Ta legal!” e fiquei demasiadamente
contente com a reação dela.
De
repente um dos meus amigos da roda, que tinha o apelido de Vandame, e até hoje
o tenho como uma das minhas maiores amizades, perguntou se eu não teria o interesse de ir lá
a frente, para mostrar uma música nossa. Neguei instantaneamente! Jamais! Eu
nunca tinha me apresentado em frente a ninguém, nem mesmo a ninguém da minha
família! Eu não tinha cojones pra
isso agora. Ele disse que tudo bem. Levantou, acenou ao professor quando um
aluno tinha acabado de se apresentar, e disse de forma bem discreta, chamando a
atenção de todos os presentes na Sala:
-
Professor! O Luis vai apresentar uma música da banda dele!
...
Eu
não ouvi mais nada. Eu não senti mais nada a não ser o inverno infernal que
ganhava espaço e dominava qualquer brecha que existia em minha barriga. Eu só
via o professor fazendo um movimento com a mão, me chamando para ir a frente de
todos e executar a apresentação.
Pensei: Eu me f.
Agora
eu não podia voltar atrás. Eu tinha que ir. Levantei com forças que não sei de
onde tirei para manter as pernas firmes e fui em direção ao local da tortura. Passei
pelo Vandame, minha mente o xingava de nomes que nem mesmo existiam, e apenas
soltei um: “Filho da P...” enquanto o via rir da minha cara.
Eu
sentei sobre a mesa da sala com o Violão, cheguei lá sem ao menos nem saber o
que iria tocar. Lembrei-me da música que havia feito para a Amanda, que
inclusive estava presente na sala, poderia tentar apresenta-la, mas 2
contratempos existiam no momento: 1º O professor que organizou o Sarau dava
aula de Redação e Língua Portuguesa. Então não tinha nada a ver eu chegar e
cantar uma música em inglês. E 2º: Poucos iriam entender alguma coisa, por ser
em inglês e certamente pelo nervosismo eu iria embromar e ia ser extremamente
horrível.
Então,
a luz no fim do túnel se acendeu. A música da banda que eu tocava e pensava na
Amanda, na relação não muito íntima que tínhamos um com o outro. Era a única
música que eu sabia tocar por inteiro e cantar por inteiro. E assim fiz.
Justifiquei
a minha inexperiência com o canto, de antemão já pedi desculpas e então comecei
a tocar. Prossegui com o verso, e ao final do Refrão resolvi levantar os olhos.
E a partir daí tive uma das melhores sensações da vida. Esperava que todo mundo
estivesse conversando entre si, distraído com outras coisas, mas não. Estava
todo mundo curtindo a música. Seguindo o ritmo da música com as mãos, gente
tentando cantar junto comigo o refrão. A música não era tão animada, mas mesmo
assim a receptividade da galera foi marcante. Talvez não tenha sido grande
coisa pra eles, mas pra mim foi de extrema relevância.
Na
hora eu não havia percebido o tanto que isso havia sido importante. Ao final da
música, por uma fraqueza da empolgação resolvi investir em uma entonação mais
alta na última frase, resultando numa desafinação que classifico como péssima e
bastante cômica. Foi engraçado, e um momento de descontração emergiu com a
galera, mas não me senti mal. Muito pelo contrário, estava super satisfeito.
Hoje
eu agradeço ao Vandame por ter me proporcionado essa experiência, mas me
recordo que ainda fiquei uns dias querendo bater nele por causa disso. A música
que fez parte deste momento marcante é de autoria do William Câmara, e se chama
Labirintos, a qual gravamos em conjunto e postamos no meu canal do Youtube:
terça-feira, 15 de janeiro de 2019
Prefácio
Raras
são as grandezas que trazem opiniões tão polêmicas alimentadas de modo a serem
totalmente baseadas nas emoções quanto à música. Ainda mais no Brasil, onde é
rara a contextualização bem fundamentada sobre a influência desta arte milenar
sobre a vida das pessoas, não apenas envolvendo o seu dia-a-dia externo e
visível para todos, mas principalmente quanto a internalidade e a
personificação do seu ser.
A
música no Brasil já não é mais bem quista pela a própria sociedade brasileira.
Tal teoria é exposta conforme apenas no modo com a qual a população enxerga a
essa arte atualmente: Apenas para diversão.
De
fato, a música possui o seu propósito de entreter, aliviar a tensão do
dia-a-dia. Seja com um Clássico de Caetano Veloso ou um Heavy Metal ‘‘pesado’’do
Slipknot, ela se torna a válvula de Escape perante as tensões da rotina.
Mas
seria esse o único propósito da música? Seria este o único benefício que ela
pode alimentar para as pessoas?
É
de se invejar o estudo da música no continente Europeu em relação a forma com a
qual ela é tratada nas Américas. Toda a didática, teoria, investimento no
estudo da arte que fortalece inclusive a boa cidadania das pessoas. É comum
encontrar adolescentes nas ruas de Londres escutando música clássica em seus
fones de ouvido, enquanto que aqui se vê a Cultura Twerk e Funk “proibidão”
ganhando mais espaço a cada dia que passa. Homenagens a grandes nomes do Rock
Clássico até hoje são bem valorizadas, graças ao cunho social e teor de suas
músicas. Não se vê isso aqui no Brasil.
Convém
para a indústria musical brasileira apenas o que gera o retorno financeiro, sem
qualquer valorização do cunho cultural histórico das nossas jornadas. Tanto
como ouvintes, tanto como músicos, nós temos histórias de valor para serem
lembradas. Agraciado é àquele que consegue transpor tais histórias dentre
melodias, harmonias e poesias. E mais contemplado ainda é aquele que atinge a
essência de quem ouve suas mensagens com o mínimo de louvor, gerando uma sede
de apreciação pelo seu trabalho.
Mas
como funcionam os bastidores de uma composição? A alimentação da inspiração de
um mensageiro é constantemente sustentada pelas emoções? Pelas angústias? Qual
é o verdadeiro objetivo?
É
notório que não há uma regra. A individualidade de cada ser permite esta rica
diversidade de histórias a serem lidas e ouvidas, transmitidas àqueles que
possam se identificar com aquilo que lê e ouve. O que pode ser um aprendizado,
ou simplesmente uma empatia com o Eu-lírico, alcançando o mais íntimo dos seus
sentimentos.
(...)
(...)
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